NOVENA EM HONRA A SÃO JOÃO MARIA VIANNEY, O CURA D’ARS
Patrono da nossa Administração Apostólica
I – ORAÇÕES INICIAIS PARA TODOS OS DIAS
De pé.
Início
V. Deus ✠ in adiutórium meum inténde. | V. Vinde, ✠ ó Deus, em meu auxílio. |
R. Dómine, ad adiuvándum me festína. | R. Senhor, apressai-Vos em me socorrer. |
V. Glória Patri, et Fílio, * et Spirítui Sancto. | V. Glória ao Pai, e ao Filho, e ao Espírito Santo. |
R. Sicut erat in princípio, et nunc, et semper, * et in sǽcula sæculórum. Amen. Allelúia. | R. Assim como era no princípio, agora e sempre, e por todos os séculos dos séculos. Amém. Aleluia. |
Ato de amor (de São João M. Vianney)
Todos: Eu Vos amo, ó meu Deus, e amar-Vos até o último suspiro da minha vida é meu único desejo. Eu Vos amo, ó Deus infinitamente amável, e prefiro morrer amando-Vos a viver um só instante sem Vos amar. Eu Vos amo, ó meu Deus, e não desejo o céu senão para ter a alegria de Vos amar perfeitamente. Eu Vos amo, ó meu Deus, e temo o inferno porque lá jamais haverá a suave consolação de Vos amar.
Ó meu Deus, se a minha língua não pode dizer-Vos a todo momento que Vos amo, quero ao menos que meu coração Vo-lo repita tantas vezes quanto suspiro.
Concedei-me a graça de sofrer amando-Vos, de amar-Vos sofrendo e de expirar um dia amando-Vos e sentindo que Vos amo. E quanto mais me aproximo do meu fim, mais Vos imploro que aumenteis o meu amor e o aperfeiçoeis.
II – ORAÇÕES PARA CADA DIA
Sentados.
PRIMEIRO DIA (26 de julho)
Leitura: São João Maria Vianney, exemplo de pobreza evangélica[1]
Primeiramente tendes o exemplo de pobreza, virtude pela qual o humilde cura d’Ars, se tornou digno êmulo do patriarca de Assis, de quem foi, na Ordem Terceira, discípulo fiel. Rico para dar aos outros, mas pobre para si mesmo, viveu num total desprendimento dos bens deste mundo, e o seu coração verdadeiramente livre abria-se com generosidade a todos os que, afligidos por misérias materiais ou espirituais vinham até ele de toda a parte em busca de remédio. “O meu segredo é bem simples, dizia ele, é dar tudo e nada guardar”.
O seu desinteresse fazia-o atender a todos os pobres, sobretudo os da sua paróquia, aos quais testemunhava extrema delicadeza, tratando-os “com verdadeira ternura, com os maiores cuidados e até com respeito”. Recomendava que nunca deixassem de ter atenções para com os pobres, porque tal falta recai sobre Deus; e, quando um miserável batia à sua porta, sentia-se feliz, ao recebê-lo, com bondade, por lhe poder dizer: “Sou pobre como vós; hoje sou um dos vossos!”. No fim da sua vida, comprazia-se em repetir: “Estou muito satisfeito; já não tenho nada de meu; Deus pode chamar-me quando quiser”.
“A experiência cotidiana atesta – escrevia Pio XI, ao pensar no cura d’Ars – que a ação dos sacerdotes de vida modesta, os quais, segundo a doutrina evangélica, não procuram absolutamente seus próprios interesses, redunda em extraordinários benefícios para o povo cristão”.
E o mesmo Pontífice, considerando o estado da sociedade contempo-rânea, dirigia também aos padres este grave aviso: “Ao ver que os homens vendem e compram, tudo pelo dinheiro, os padres caminhem desinteressadamente pelos engodos do vício, e desprezando todo baixo desejo de ganhar, busquem almas e não dinheiro, a glória de Deus e não a sua!”
V. São João Maria Vianney, exemplo de pobreza evangélica.
R. Ajudai-nos a imitar-vos e viver sem prender nosso coração aos bens passageiros do mundo.
De joelhos.
Todos: Ó São João Maria Vianney, vós nascestes de uma mãe profundamente cristã e dela recebestes, juntamente com a fé, o amor de Deus e da oração. Pequenino ainda, éreis surpreendido de joelhos diante da imagem de Nossa Senhora. Vossa alma era naturalmente atraída para as coisas do alto. No entanto, quanto vos custou quando tivestes que corresponder à vossa vocação! quantos obstáculos e contradições da parte dos homens! E depois, quanto lutastes e sofrestes para chegardes a ser o Sacerdote perfeito que fostes! Mas, vosso espírito de fé tão profundo vos sustentou em todos vossos combates.
Ó grande Santo, vós conheceis os desejos de minha alma: eu gostaria de melhor servir ao Deus do qual já recebi tantos favores. Para isso, obtende-me mais coragem e, sobretudo, mais espírito de fé. Muitos dos meus pensamentos, palavras e ações são inúteis para minha santificação e salvação, pois esse espírito sobrenatural ainda não anima minha vida. Fazei que isso mude de agora em diante.
SEGUNDO DIA (27 de julho)
Sentados.
Leitura: Sua castidade angélica[2]
São João Maria Vianney, pobre de bens materiais, foi igualmente exemplo de voluntária mortificação da carne. “Não há senão uma maneira de se dar a Deus no exercício da renúncia e do sacrifício – dizia ele – isto é, dar-se totalmente”. E, em toda a sua vida, praticou, em grau heroico, a ascese da castidade.
O seu exemplo sobre este ponto parece, particularmente oportuno, porque, em muitas regiões, infelizmente, os padres são obrigados a viver, em virtude do seu cargo, num mundo onde reina uma atmosfera de excessiva liberdade e sensualidade.
Foi dito do cura d’Ars: “A castidade brilhava no seu olhar”. Na verdade, quem estuda a sua personalidade fica surpreendido, não só pelo heroísmo com que este padre subjugava seu corpo, mas ainda pela força da convicção com que conseguia que a multidão dos seus penitentes o seguisse. É que ele sabia, por uma longa prática do confessionário, os males causados pelos pecados da carne. Por isso, de seu peito saíam estes gemidos: “Se não houvesse almas puras que aplacassem a Deus ofendido pelos nossos pecados, quantos e quão terríveis castigos teríamos nós que suportar!”. Esta ascese necessária da castidade, longe de fechar o padre num estéril egoísmo, torna o seu coração mais aberto e mais acessível a todas as necessidades dos seus irmãos. Dizia otimamente o Cura d’Ars: “Quando o coração é puro não pode deixar de amar, porque encontrou a fonte do amor, que é Deus”.
Que graça para a Igreja ter padres empenhados em guardar integralmente esta virtude! Com Pio XI, consideramo-la a glória mais pura do sacerdócio católico, ela que nos parece “a melhor resposta aos desejos do Coração de Jesus e aos seus desígnios sobre as almas sacerdotais”. Por isso, em conforme com os desígnios da divina caridade, dizia o santo Cura d’Ars: “O sacerdócio é o amor do Coração de Jesus!”
V. São João Maria Vianney, exemplo de castidade.
R. Ajudai-nos a imitar-vos com pureza de corpo e de alma.
De joelhos.
Todos: Ó São João Maria Vianney, que confiança tinham as multidões em vossas orações! Vós não podíeis sair de vossa casa paroquial ou de vossa pobre igreja sem estardes cercado de almas suplicantes que se dirigiam a vós, do mesmo modo como se dirigiriam ao próprio Jesus em Sua vida mortal. E vós, bom Santo, por vossas palavras cheias de eternidade, as excitáveis à esperança.
Vós que sempre confiastes inteiramente no Coração de Deus, obtende-me uma confiança profunda e filial em Sua adorável Providência. Que a esperança nos bens celestes encha meu coração de coragem e me ajude a praticar sempre os divinos mandamentos.
TERCEIRO DIA (28 de julho)
Sentados.
Leitura: Seu espírito de obediência[3]
São numerosos os testemunhos sobre o espírito de obediência do santo, podendo afirmar-se que para ele a exata fidelidade ao “prometo” da ordenação foi motivo para uma permanente renúncia de quarenta anos. Durante toda a sua vida, com efeito, aspirou à solidão de um santo retiro, e as responsabilidades pastorais foram para ele pesado fardo, do qual por várias vezes tentou libertar-se. Mas sua obediência total ao Bispo foi mais admirável.
“Desde a idade de quinze anos este desejo (da solidão) estava no seu coração para o atormentar e tirar-lhe a felicidade de que poderia gozar na sua posição”. Mas “Deus não permitiu que pudesse realizar tal desígnio. A divina Providência queria sem dúvida que, sacrificando o seu gosto à obediência, o prazer ao dever, João Maria Vianney tivesse constantemente ocasião de se vencer”. “Vianney continuou cura d’Ars com obediência cega e assim ficou até à morte”.
Esta total adesão à vontade dos superiores era, convém afirmá-lo, inteiramente sobrenatural no seu motivo: era um ato de fé na palavra de Cristo que dizia aos seus apóstolos: “Quem vos ouve, a mim ouve”, e, para ser-lhe fiel costumava habitualmente renunciar à sua própria vontade na aceitação do seu pesado encargo do confessionário e em todas as tarefas cotidianas onde a colaboração entre confrades torna o apostolado mais frutuoso.
Estimamos propor como exemplo aos padres, esta rigorosa obediência, esperando que saibam compreender toda a sua grandeza e cada vez a cultivem com maior empenho. E se, um dia, sentissem a tentação de duvidar da importância desta virtude capital, hoje tão facilmente esquecida, convençam-se de que têm contra si as afirmações claras e nítidas de Pio XII, que atesta que “a santidade da vida pessoal e a eficácia do apostolado têm por base e sustentáculo a obediência constante e exata à sagrada hierarquia”. Dizia-se do cura d’Ars que ele só vivia na Igreja e só para a Igreja trabalhava, como palha que se consome no fogo.
V. São João Maria Vianney, exemplo de obediência.
R. Ajudai-nos a imitar-vos e obedecer nossos legítimos superiores.
De joelhos.
Todos: Ó São João Maria Vianney, quão grande foi a caridade da qual fizestes prova a Deus e ao próximo. Não podíeis pregar sobre o amor de Deus sem derramar ardentes lágrimas e, em vossos últimos anos, parecia que não podíeis falar de outra coisa, nem viver para outra coisa. Quanto ao próximo, para o consolar, absolver e santificar, vós vos sacrificastes até o extremo limite de vossas forças.
Herói da caridade, inspirai-me um maior amor de Deus, amor que se exprima mais por atos do que por palavras. Concedei-me amar a meu próximo generosa e cristãmente.
QUARTO DIA (29 de julho)
Sentados.
Leitura: A piedade eucarística do santo cura d’Ars[4]
Homem de penitência, São João Maria Vianney tinha igualmente compreendido que “o padre, antes de tudo, deve ser homem de oração”. Todos conhecem as longas noites de adoração que, este jovem pároco duma aldeia, então pouco cristã, passava diante do Santíssimo Sacramento. O sacrário da sua igreja tornou-se o foco da sua vida pessoal e do seu apostolado, a ponto de não se poder evocar justamente a paróquia de Ars no tempo do Santo, senão por estas palavras de Pio XII sobre a paróquia cristã: “O centro é a igreja e, na igreja, o sacrário e, ao lado, o confessionário onde se restitui a vida sobrenatural ou a saúde ao povo cristão”.
A oração do cura d’Ars, que passou por assim dizer os trinta últimos anos de vida na igreja onde o retinham os seus inúmeros penitentes, era sobretudo uma oração eucarística. A sua devoção para com nosso Senhor, presente no Santíssimo Sacramento do altar, era verdadeira-mente extraordinária. “Está ali – dizia – aquele que tanto nos ama; por que nós não havemos de amá-lo?” E, por certo, ele amava-o e sentia-se como que irresistivelmente atraído para o sacrário.
Explicava ele aos seus paroquianos: “Para bem rezar não há necessidade de falar tanto! Sabemos pela fé que Deus está ali, no sacrário; abrimos-lhe o nosso coração e sentimo-nos felizes por ser admitidos à sua presença. É a melhor maneira de rezar”. Não perdia ocasião de inculcar aos fiéis o respeito e o amor à divina presença na Eucaristia, convidando-os a aproximarem-se com frequência da sagrada Mesa; e dava-lhes exemplo desta profunda piedade: “Para se convencerem disso, referiram as testemunhas, bastaria vê-lo celebrando a Missa, e fazendo a genuflexão ao passar diante do sacrário”.
“Trabalhando sem cessar pelo bem das almas, João Maria Vianney não abandonava a sua. Trabalhava estrenuamente na própria santificação, para ficar assim mais apto a levar os outros a ela”.
V. São João Maria Vianney, exemplo de piedade.
R. Ajudai-nos a imitar-vos no amor do Santo Sacrifício da Missa.
De joelhos.
Todos: Ó São João Maria Vianney, que fostes sempre duro contra o pecado, mas sempre acolhedor e compassivo para com o pecador, eu venho a vós como se ainda vivêsseis, como se pudésseis me atender ajoelhado aos vossos pés. Inclinado a mim, vós escutais a confidência arrependida das minhas fraquezas e misérias.
Sacerdote do Senhor, confessor infatigável, se isso não é nada mais que um sonho do meu coração, obtende-me pelo menos o horror ao pecado. Vós queríeis que em primeiro lugar se evitassem as ocasiões perigosas. Tomarei, sob vosso conselho, a resolução de romper com todos os hábitos repreensíveis e más ocasiões. Ajudai-me hoje a examinar minha consciência.
QUINTO DIA (30 de julho)
Sentados.
Leitura: O Sacerdócio e o Sacrifício da Missa[5]
Nunca devemos esquecer que a oração eucarística, no verdadeiro sentido da palavra, é o santo Sacrifício da Missa.
É bom mostrar em que sentido profundo o santo cura d’Ars, heroicamente fiel aos deveres do seu ministério, mereceu na verdade ser proposto como exemplo aos pastores de almas e proclamado seu celeste padroeiro.
Que é, pois, o apostolado do padre, considerado na sua ação essencial, se não congregar, onde quer que viva a Igreja, em volta do altar, o povo regenerado pelo santo batismo e purificado dos seus pecados? É então que o padre, pelos poderes que só ele recebeu, oferece o divino sacrifício onde o próprio Jesus renova a imolação única realizada no Calvário para redenção do mundo e glorificação do Pai; ali que os cristãos reunidos oferecem ao Pai celeste a Vítima divina por meio do padre e se aprestam a imolar-se eles mesmos como “hóstias vivas, santas, agradáveis a Deus”.
A este respeito, o santo cura d’Ars, de dia para dia, cada vez mais foi se empenhando no ensino da fé e na purificação das consciências e, portanto, todos os atos do seu ministério convergiam para o altar.
Sem dúvida, em Ars, os pecadores acorriam numerosíssimos à Igreja, atraídos pela fama de santidade do pastor, ao passo que tantos padres têm de consagrar longos e laboriosos esforços para reunir o povo que lhes está comado e, à maneira de missionários, ensinar os primeiros elementos da doutrina cristã. Mas estes trabalhos apostólicos, tão necessários e por vezes tão difíceis, não podem fazer esquecer aos homens de Deus o fim para o qual devem continuamente tender e que o cura d’Ars atingiu quando, na sua humilde igreja de aldeia, se consagrava às tarefas essenciais da ação pastoral.
V. São João Maria Vianney, exemplo dos sacerdotes.
R. Abençoai todo o clero e convertei os Padres em exemplos para o rebanho.
De joelhos.
Todos: Ó São João Maria Vianney, vós sabeis que importância tem, na vida do cristão, uma confissão bem feita. Foi para buscar os felizes frutos da confissão para milhões de almas, que consentistes em ficar durante dezesseis horas por dia como que prisioneiro, sem ar e sem luz, entre as rudes madeiras de um confessionário.
Ah! Eu percebo que, se tomo o excelente hábito da confissão frequente, se me preparo bem, se tenho sempre um arrependimento suficiente de minhas faltas, não somente minha perseverança final, mas a santificação da minha alma está assegurada. Pedi por mim esta graça.
SEXTO DIA (31 de julho)
Sentados.
Leitura: O santo cura d’Ars, modelo de zelo apostólico[6]
Esta vida de ascese e de oração mostra claramente o segredo do zelo pastoral de São João Maria Vianney e da extraordinária eficácia sobrenatural do seu ministério. Escrevia Pio XII: “Que o padre se lembre que o altíssimo ministério que lhe foi confiado será tanto mais fecundo quanto mais estreitamente estiver unido com Cristo e se deixar guiar pelo seu espírito”. A vida do cura d’Ars confirma, uma vez mais, esta grande lei de todo o apostolado, fundada na própria palavra de Jesus: “Sem mim, nada podeis fazer”.
Sem dúvida, não se trata aqui de relembrar a admirável história deste humilde pároco de aldeia, cujo confessionário foi, durante trinta anos, assediado por multidões tão numerosas que certos espíritos fortes da época ousaram acusá-lo de “perturbar o século XIX”, nem de tratar de todos os métodos de apostolado, com que ele se desempenhava do seu ofício e que nem sempre se podem aplicar em nossos dias. Basta-nos lembrar que o Santo foi no seu tempo um modelo de zelo pastoral nesta aldeia de França, onde a fé e os costumes se ressentiam ainda dos abalos da Revolução. “Não há muito amor de Deus nessa paróquia, tereis vós de o despertar” lhe disseram quando para lá o mandaram. Apóstolo infatigável, hábil e sagaz para conquistar a juventude e santificar os lares, atento às necessidades humanas das suas ovelhas, próximo da sua vida, trabalhando sem descanso por estabelecer escolas cristãs e promover missões paroquiais, ele foi na verdade, para o seu pequenino rebanho, o bom pastor, que conhece suas ovelhas e as livra dos perigos e conduz com fortaleza e suavidade. Sem perceber, ele parecia se descrer quando disse em um dos seus sermões: “Um bom pastor, um pastor segundo o coração de Deus: eis o maior tesouro que Deus pode conceder a uma paróquia”.
V. São João Maria Vianney, modelo de zelo apostólico.
R. Alcançai aos nossos padres este mesmo zelo pelas almas.
De joelhos.
Todos: Ó São João Maria Vianney, cujo grande e, frequentemente, único conforto nesse mundo miserável foi a Presença real de Jesus no sacrário, vossa grande alegria não era a de distribuir a Comunhão aos peregrinos que vos visitavam? Vós afastáveis da Santa Mesa as almas que recusavam a corrigir-se, mas às almas de boa vontade, abríeis de par em par as portas do festim eucarístico.
Ó grande Santo, que cada dia na Santa Missa, comungastes com o ardor de um Serafim, concedei-me um pouco do vosso fervor. Com a graça de ter a alma limpa de qualquer pecado mortal, obtende-me o desejo sincero de aproveitar da comunhão, desta visita divina que embalsamava vosso coração.
SÉTIMO DIA (1º de agosto)
Sentados.
Leitura: Sentido apurado das suas responsabilidades pastorais[7]
O que em primeiro lugar impressiona é o sentido apurado que ele tinha das suas responsabilidades pastorais. A humildade e o conhecimento sobrenatural do valor das almas fizeram-no levar com receio o ônus de pároco. “Meu amigo – confiava ele a um colega –, não sabeis o que é passar duma paróquia para o tribunal de Deus!”
Todos sabemos o desejo, que durante muito tempo o atormentou, de fugir para um lugar retirado para aí “chorar a sua pobre vida”, e como a obediência e o zelo das almas o reconduziram sempre ao seu posto.
Mas se, em certas horas, ele se sentiu assim acabrunhado pelo seu cargo excepcionalmente pesado, é precisamente porque tinha uma concepção heroica do seu dever e das suas responsabilidades de pastor. Com efeito, nos primeiros anos de seu ofício paroquial elevava ao céus a prece suplicante: “Meu Deus, concedei-me a conversão da minha paróquia, sujeito-me a sofrer o que quiserdes, durante toda a minha vida!” E obteve do céu essa conversão. Mas, mais tarde, confessava: “Quando vim para Ars, se tivesse previsto os sofrimentos que lá me esperavam, teria morrido imediatamente, de medo”.
A exemplo dos apóstolos de todos os tempos, ele via na cruz o grande meio sobrenatural de cooperar na salvação das almas que lhe estavam confiadas. Por elas, sofria, sem se queixar, calúnias, incompreensões e contradições; por elas, aceitou o verdadeiro martírio físico e moral de uma presença quase ininterrupta no confessionário, todos os dias, durante trinta anos; por elas, lutou como atleta do Senhor contra os poderes infernais; por elas, mortificou seu corpo. E é conhecida a sua resposta a um colega que se queixava da pouca eficácia do seu ministério: “Rezastes, chorastes, gemestes, suspirastes. Mas porventura jejuastes, fizestes vigílias, dormistes sobre o chão duro, fizestes penitências corporais? Enquanto não o fizerdes, não julgueis que fizestes tudo!”
V. São João Maria Vianney, fidelíssimo ao vosso ofício.
R. Alcançai-nos fidelidade aos nossos deveres de estado.
De joelhos.
Todos: Ó São João Maria Vianney, tornaram-se célebres os ataques infernais que tivestes de suportar. Para fazer-vos sucumbir ante a fadiga, de modo a abandonardes vossa missão sublime de convertedor, o demônio veio perturbar durante longos anos o curto repouso de vossas noites. Mas, vós o vencestes pela mortificação e oração.
Ó poderoso Protetor, vós sabeis que o tentador deseja-me o mal e que ele odeia minha alma batizada e crente. Ele quer fazer-me cair no pecado para que eu perca o gosto pela virtude e pelos sacramentos. Mas, bom Santo de Ars, vós afastareis de mim as armadilhas do inimigo.
OITAVO DIA (2 de agosto)
Sentados.
Leitura: Pregador e catequista infatigável[8]
“Sempre pronto a corresponder às necessidades das almas”, João Maria Vianney, como bom pastor, durante toda a sua vida, foi pregador e catequista.
Conhece-se o trabalho solícito e perseverante a que se obrigou para bem cumprir este dom do seu cargo, “primeiro e máximo dever”, segundo o Concílio de Trento. Seus estudos, tardiamente feitos, foram laboriosos, e os sermões custaram-lhe no começo não poucas vigílias. O seu bispo dizia dele a alguns dos seus detratores: “Não sei se é instruído, mas o que é certo é que brilha com luz do céu”.
“O santo cura d’Ars não tinha, por certo, o gênio natural dum Pe. Ségneri ou dum Benigno Bossuet; mas a convicção viva, clara e profunda, de que estava animado, vibrava na sua palavra, brilhava nos seus olhos, sugeria à sua imaginação e sensibilidade ideias, imagens, comparações justas, apropriadas, deliciosas, que teriam encantado um São Francisco de Sales. Tais pregadores conquistam o auditório. Àquele que está cheio de Cristo não será difícil conquistar os outros para Cristo”. Estas palavras descrevem à maravilha o cura d’Ars, catequista e pregador.
Quando, no fim da vida com a voz enfraquecida, já não se podia fazer ouvir por todo o auditório, era ainda pelo olhar de fogo, pelas lágrimas, pelos gemidos de amor de Deus ou pela expressão de dor ao simples pensamento do pecado, que convertia os fiéis atraídos para junto da sua cátedra. Com efeito, quem não ficará impressionado pelo testemunho duma vida tão inteiramente votada ao amor de Cristo?
Este humilde padre tinha, com efeito, compreendido em alto grau a dignidade e a grandeza do ministério da Palavra de Deus: “Nosso Senhor, que é a própria Verdade – dizia ele – não faz menos caso da sua Palavra do que do seu corpo”.
V. São João Maria Vianney, exemplar de pregador e catequista.
R. Alcançai-nos amor e fidelidade à santa doutrina católica.
De joelhos.
Todos: Ó São João Maria Vianney, uma testemunha de vossa vida, edificado pela modéstia e delicada pureza que se irradiavam de toda a vossa pessoa, fez de vós este magnífico elogio: “Parecia um anjo em carne mortal”. Com que atratividade e entusiasmo pregastes aos fiéis estas belas virtudes, cujo perfume, dizíeis, “assemelha-se ao de uma vinha em flor”.
Eu vos peço, uni vossa intercessão à de Maria Imaculada e à de vossa cara e pequena Santa Filomena a fim de que eu guarde sempre, como Deus pede de mim, a pureza do meu coração. Vós que dirigistes tantas almas ao cume das virtudes, defendei-me contra as tentações e obtende-me a graça de sempre vencê-las.
NONO DIA (3 de agosto)
Sentados.
Leitura: Incansável apóstolo do confessionário[9]
Por último, resta-nos evocar na vida de São João Maria Vianney este aspecto do ministério pastoral, que para ele, durante muitos anos de sua vida, foi como um longo martírio e fica para sempre ligado à sua memória: a administração do sacramento da penitência, que dele recebeu singular brilho e produziu os mais abundantes e salutares frutos. “Em média, cada dia, passava quinze horas no confessionário. Este labor cotidiano começava de madrugada e só acabava à noite”. E quando caiu esgotado, cinco dias antes de morrer, os últimos penitentes aglomeravam-se à cabeceira do moribundo. Calculou-se que no final da vida, o número anual dos peregrinos atingisse oitenta mil.
Dificilmente se podem imaginar as contrariedades e os sofrimentos físicos destas intermináveis horas no confessionário, para um homem já esgotado pelos jejuns, macerações, enfermidades, e falta de sono… Mas, acima de tudo, ele sentia-se como moralmente esmagado pela dor. Escutai a sua lamentação: “Ofende-se tanto a Deus, que quase nos sentimos tentados a pedir o fim do mundo!.. É preciso vir a Ars para se saber o que é o pecado e a sua multidão quase infinita… Não se sabe o que se deve fazer: só se pode chorar e rezar”. O santo esquecia-se de acrescentar que tomava também sobre si uma parte da expiação: “Pela minha parte – contava ele a quem lhe pedia conselho – dou-lhes uma penitência pequena e o resto faço-a eu por eles”.
Na verdade, o cura d’Ars não vivia senão para os “pobres pecadores”, como ele dizia, na esperança de os ver converter-se e chorar. A sua conversão era “o fim para o qual convergiam todos os seus pensamentos e a obra em que dispendia todo o tempo e todas as forças”. É que, com efeito, ele sabia, pela experiência do confessionário, toda a malícia do pecado e as suas horrorosas devastações no mundo das almas. Falou disso em termos terríveis: “Se tivéssemos fé e víssemos uma alma em estado de pecado mortal, morreríamos de pavor!”
V. São João Maria Vianney, incansável apóstolo do confessionário.
R. Conduzi-nos sempre a Deus pelo sacramento da Confissão.
De joelhos.
Todos: Ó São João Maria Vianney, vossos preciosos restos mortais repousam hoje em um magnífico relicário, presente dos padres da França. E essa glória terrena nada mais é do que uma pálida imagem da glória inefável que gozais junto de Deus. Durante vossa vida aqui na terra, nas horas de fadiga costumáveis dizer: “Descansaremos na outra vida!” É a realidade: vós estais agora na paz eterna, na eterna felicidade.
Ah! Como eu desejo seguir-vos um dia. Desde o céu vos ouço dizer-me: “É necessário trabalhar e lutar enquanto se está neste mundo”. Ensinai-me, portanto, a trabalhar na salvação da minha alma, a dar o bom conselho e o bom exemplo, a fazer o bem em redor de mim, a fim de que tenha parte, como vós, na felicidade dos Eleitos.
III – ORAÇÕES FINAIS PARA TODOS OS DIAS
Todos: Ó Santo Cura d’Ars, tenho confiança em vossa intercessão. Intercedei especialmente pela graça que pedimos nesta novena (pedir a graça desejada em silêncio). Pai-Nosso, Ave Maria, Glória ao Pai.
Todos: Bendito seja Deus! Coragem minha alma, o tempo passa e a eternidade se aproxima. Vivamos como devemos morrer.
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Os fiéis do Oratório acrescentam (pelas obras do Oratório):
V. São João Maria Vianney, celeste Patrono da Administração Apostólica, olhai para o nosso Oratório, fruto do apostolado de vossos Padres, e ajudai-nos a adquirir um lugar para ser a sede do nosso Oratório:
Todos: Humildemente vos suplicamos, glorioso Patrono, alcançai-nos mais essa graça: uma sede para o nosso Oratório. Para que nossos fiéis possam praticar a santa Religião; as famílias possam se reunir e se fortalecer com a santa doutrina e com a convivência fraternal; as crianças possam crescer em sabedoria e graça; os pecadores sejam reconciliados com Deus; e as almas encontrem Alimento salutar.
Para isso, abençoai nossa campanha de arrecadação de fundos, dirigi nossos Padres, movei os corações e suscitai doadores generosos que recebam de Deus cem vezes mais aqui na terra e, depois, o Paraíso em recompensa!
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Conclusão
V. Hic vir, despíciens mundum et terrena. | V. Este homem, desprezando o mundo e a terra. |
R. Triúmphans, divítias cœlo cóndidit ore, manu. | R. Triunfante, acumulou riquezas no céu com seu zelo. |
V. Dómine, exáudi oratiónem meam. | V. Senhor, ouvi minha oração. |
R. Et clamor meus ad te véniat. | R. E chegue até Vós o meu cla-mor. |
Oremus. Omnípotens et miséricors Deus, qui sanctum Ioánnem Maríam pastoráli stúdio et iugi oratiónis ac pœniténtiæ ardóre mirábilem effecísti: da, quæsumus; ut, eius exémplo et intercessióne, ánimas fratrum lucrári Christo, et cum eis ætérnam glóriam cónsequi valeámus. Per eúndem Dóminum nostrum Iesum Christum, Fílium tuum: qui tecum vivit et regnat in unitáte Spíritus Sancti, Deus, per ómnia sǽcula sæculórum. |
Oremos. Onipotente e misericordioso Deus, que fizestes de São João Maria Vianney um sacerdote admirável no zelo pastoral, concedei-nos, que, imitando o seu exemplo, ganhemos para Vós no amor de Cristo os nossos irmãos e com eles alcancemos a glória eterna. Pelo mesmo Senhor nosso Jesus Cristo, vosso Filho, que convosco vive e reina, Deus, na unidade do Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. |
R. Amen. | R. Amém. |
V. Dómine, exáudi oratiónem meam. | V. Senhor, ouvi minha oração. |
R. Et clamor meus ad te véniat. | R. E chegue até Vós o meu cla-mor. |
V. Benedicámus Dómino. | V. Bendigamos ao Senhor. |
R. Deo grátias. | R. Graças a Deus. |
V. Fidélium ✠ ánimæ per misericórdiam Dei requiéscant in pace. | V. Que as almas dos fiéis ✠ defuntos, por misericórdia de Deus, descansem em paz. |
R. Amen. | R. Amém. |
De pé.
Hino de São João Maria Vianney
- 1. Elevemos a Deus nosso canto! – Bendigamos pra sempre a Jesus, – Que nos deu por modelo este Santo, – Que hoje vive na pátria da Luz.
- Ó glorioso São João Vianney, – Nosso grande e fiel protetor, – Nossas almas do mal defendei – E guardai-as pra Nosso Senhor!
- 2. Quantas horas no confessionário! – França inteira vos veio escutar. – Vossa vida de humilde vigário – Mereceu-vos a glória do altar.
- 3. Para a nossa – que é Vossa – União – Sacerdotes zelosos mandai! – A Jesus e à imortal Tradição – Nossas almas fiéis conservai!
- 4. Alcançai-nos de Deus sacerdotes – Que vos sigam no zelo e no amor: – Eucarísticos, castos e fortes, – Consagrados à Mãe do Senhor!
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[1] Carta encíclica Sacerdotii nostri primordia, n. 12.
[2] Carta encíclica Sacerdotii nostri primordia, n. 15-19.
[3] Carta encíclica Sacerdotii nostri primordia, n. 20-23.
[4] Carta encíclica Sacerdotii nostri primordia, n. 24.28.27.
[5] Carta encíclica Sacerdotii nostri primordia, n. 31.33-35.
[6] Carta encíclica Sacerdotii nostri primordia, n. 39-40.
[7] Carta encíclica Sacerdotii nostri primordia, n. 42-43.
[8] Carta encíclica Sacerdotii nostri primordia, n. 46-50.
[9] Carta encíclica Sacerdotii nostri primordia, n. 52-54.